Morte após espancamento em escola: médica afirmou que caso não era grave e não voltou para reavaliar Alícia Valentina, diz mãe
12/09/2025
(Foto: Reprodução) O que se sabe sobre a morte de criança agredida em escola de Belém do São Francisco (PE)
A mãe de Alícia Valentina, menina de 11 anos que morreu após ser espancada dentro da escola em Belém do São Francisco, no Sertão, contou que decidiu levar a filha para casa sem esperar a alta médica, no dia da agressão, porque nenhum profissional retornou para reavaliar o quadro de saúde da menina.
Em entrevista à Rádio Cana Brava FM, nesta quinta-feira (11), a mãe disse que a médica responsável havia informado que o caso não era grave, após examinar Alícia.
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Segundo a mãe, a garota foi encaminhada ao Hospital Municipal de Belém do São Francisco pela coordenadora da Escola Municipal Tia Zita, logo após a agressão. No local, a profissional relatou que Alícia tinha recebido dois socos, um no nariz e outro no ouvido.
“Quem estava no hospital com ela foi a coordenadora. Cheguei lá e disse: ‘que foi que aconteceu?’. Ela [coordenadora] disse: ‘foi um murro no nariz e um murro no ouvido. E saiu sangue pelo ouvido e pela boca’”, contou a mulher durante a entrevista.
Ainda de acordo com a mãe, a coordenadora acompanhou todo o atendimento médico e chegou a questionar a gravidade da situação, recebendo como resposta que não havia risco maior para a garota.
“Entrei com ela, a coordenadora, e Alícia no consultório. Ela [a médica] examinou. A coordenadora disse: ‘é grave?’. Ela respondeu: ‘não é grave’. A médica que falou que não era grave”, relatou.
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Após a aplicação da medicação, a mãe disse que retirou a filha do hospital porque nenhum profissional retornou para fazer uma nova avaliação — prática que, segundo ela, é comum no local.
“Fui para o laboratório, aplicou injeção na menina. A médica não voltou novamente para dar alta e nem ver a menina. [...] Lá é assim: a gente toma uma injeção, manda ir para casa. [...] Não falaram nada [...]. Ninguém me deu essa ordem aí (de liberar ou manter a menina no hospital), nem a médica, nem as enfermeiras no laboratório”, afirmou.
Procurada pelo g1, a prefeitura de Belém do São Francisco negou que seja uma prática comum deixar a unidade de saúde logo após receber a medicação. Em nota, a prefeitura disse que “não houve negligência médica ou alta hospitalar pelos profissionais de saúde que realizaram o atendimento” e que Alícia “foi levada para casa, por sua mãe, sem autorização da médica plantonista”.
Alícia Valentina, de 11 anos, morreu após ser espancada dentro da escola em Belém do São Francisco, no Sertão de Pernambuco
Acervo pessoal/Reprodução
Um único agressor
'Foi apenas uma criança', diz tia de menina que morreu após ser agredida em escola
Em entrevista ao g1 nesta quinta-feira (11), a tia de Alícia — que registrou o boletim de ocorrência do caso — Maria Helena dos Santos, contou que a menina foi agredida por apenas um adolescente, diferente da versão inicial informada à Polícia Civil.
De acordo com ela, a denúncia foi realizada num momento em que a família não tinha conhecimento exato do ocorrido. A informação de que apenas um garoto havia batido em Alícia, segundo a tia, foi mencionada pela irmã da vítima, que estuda na mesma escola e, posteriormente, confirmada por um policial civil após a apreensão do adolescente suspeito, na quarta-feira (10).
“Soube por terceiros que tinham sido quatro crianças, mas não foram quatro crianças, só foi uma. A gente não ficou a par de nada, só disso mesmo. [...] No sábado, eu ouvi a irmã dela comentando com uma coleguinha que tinha sido só o menino que queria ficar com ela. [...] Quando foi ontem, veio a confirmação. O policial me falou, eu perguntei para ele e ele me falou”, compartilhou.
Ainda segundo Maria Helena dos Santos, a família segue sem confirmação de qual a motivação da agressão. A hipótese da família é que Alícia Valentina se desentendeu com o adolescente porque ela não quis “ficar” com ele, com base em comentários da irmã da vítima, que estuda na mesma escola onde o caso aconteceu.
“Na quinta-feira de manhã, eu falei com ela [irmã], quando ainda não tinha acontecido [a morte], eu perguntei como tinha sido, o porquê que ele tinha batido nela [Alícia]. Ela me falou: ‘tia, ele queria namorar com ela e ela não queria’. Ela só falou isso. Eu disse: ‘só por isso?’, aí ela disse, ‘só’, não falou mais nada”, disse Maria Helena.
De acordo com a tia de Alícia, a família ainda não conseguiu voltar a abordar o assunto com a irmã por conta do abalo emocional em que a menina se encontra.
“Ela está muito abatida. Quando a gente toca no assunto, ela fica com crise de ansiedade. Ainda não [conversamos com ela]. A gente está deixando ela ficar mais calma, conversamos sobre outros assuntos para ela ficar distraída, não ficar só no pensamento. A gente não quer conversar agora, ela fica muito nervosa”, explicou.
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As imagens, gravadas às 13h04, mostram Alícia de camisa branca e calça jeans andando por um pátio até a entrada do banheiro, onde estava um grupo de alunos.
O vídeo mostra também um movimento de alunos perto da porta do banheiro. Em determinado momento, um dos estudantes dá um empurrão em alguém. Não é possível afirmar que Alícia é a criança empurrada.
Alguns segundos depois, um menino que testemunhou a cena corre de volta ao pátio e fala com a funcionária. Logo em seguida, Alícia aparece caminhando e conversa com a profissional da escola.
Enquanto pede ajuda, ela mantém uma das mãos no ouvido esquerdo e segura o nariz, como se tentasse estancar um sangramento.
Segundo a família, a menina foi encaminhada por funcionários do colégio para o Hospital Municipal de Belém do São Francisco. Depois que a menina foi liberada, os pais, ao perceberem que ela apresentava um sangramento no ouvido, a levaram ao posto de saúde do município.
A criança também foi atendida no hospital de Salgueiro, também no Sertão de Pernambuco, antes de ser transferida para o Recife (veja cronograma do caso no infográfico abaixo). No atestado de óbito, consta que a vítima teve "traumatismo cranioencefálico produzido por objeto contundente".
Infográfico - Criança de 11 anos morre após ser agredida em escola em Belém do São Francisco, PE
Arte/g1
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